Falar em carro global hoje em dia virou discurso de quase todas as marcas, mas, de fato, quem faz isso há anos são as montadoras japonesas, sobretudo Toyota e Honda. Com raras exceções, o Corolla que se vê no Brasil é o mesmo dos Estados Unidos assim como o Civic da Tailândia é praticamente idêntico ao russo.
Não por coincidência, ambos estão entre os automóveis mais vendidos no mundo. Essa receita um tanto óbvia passou despercebida pelas concorrentes que só agora resolveram enxergar o mundo dessa maneira – para a sorte delas porque produzir um mesmo produto globalmente significa reduzir custos e otimizar a produção e mesmo o pós-venda.
Uma das marcas que acabam de adotar essa filosofia é a Renault. Em seu novo sedã médio, o Fluence, justamente um rival do Civic e Corolla, a filosofia japonesa foi levada ao extremo. Durante nosso contato com ele poucas coisas lembravam a marca francesa, com raras exceções como o painel, o mesmo do Mégane III, carro do qual deriva. Mas há muitas diferenças em relação ao Mégane: motor e câmbio, por exemplo, vem do Sentra, da parceira (japonesa) Nissan e o design, da coreana Samsung, outro braço do grupo.
Timidez
Por falar em estilo, o Fluence, que acaba de começar a ser vendido no Brasil, contradiz o que se espera da Renault, uma marca conhecida pelo exotismo de suas linhas. O sedã, ao contrário, tem traços discretos - até tímidos - mas elegantes. A linha de cintura alta, por exemplo, acaba fazendo com que o carro pareça menor do que é. Sensação bastante enganosa afinal o Fluence é grande, bastante grande.
A largura da cabine, por exemplo, é cerca de 6 cm maior que a do Civic e o porta-malas, um dos maiores da categoria, com 530 litros. Mas o que chama a atenção no interior é mesmo o padrão de acabamento, muito parecido com o dos carros japoneses. Tons de cinza combinados com preto e superfícies emborrachadas tornam o ambiente bastante confortável e bem superior ao do Mégane II, sedã que ele substituiu. Apesar disso, alguns deslizes na montagem foram notados na unidade avaliada pelo iG Carros como rebarbas de tecido aparentes.
O quesito "equipamento" é ponto alto do Fluence. Sabendo que terá uma missão complicada, com tantos concorrentes chegando, a Renault foi generosa no pacote de itens de série, mesmo das versões mais simples. Exemplo: o ar-condicionado digital de duas zonas está presente em todos os modelos assim como os seis airbags e os freios com ABS e EBD. Em relação aos diferenciais do Mégane, o Fluence manteve um deles, a chave-cartão, mas que agora tem mais atributos como permitir a abertura e partida do carro apenas pela presença.
Corolla francês
Se a Renault foi “influenciada” na hora de definir o estilo de direção do Fluence fica claro que o Corolla foi a referência. O comportamento do sedã lembra muito o do Toyota. A direção elétrica, por exemplo, ficou mais bem acertada que a do Mégane – leve nas manobras e firme em velocidades altas. A suspensão, do tipo eixo de torção na traseira, absorve muito bem as oscilações do solo sem ser muito macia em curvas. O pulo do gato, no entanto, é a dupla da Nissan: o motor 2.0 de 143 cv e o câmbio CVT com seis marchas são responsáveis por retomadas e acelerações vigorosas, que deixam o Civic parecendo um carro 1.0.
Ágil nas trocas, a transmissão CVT (que tem marchas infinitas, mas que oferece seis posições virtuais) está bem escalonada e aproveita os 20,3 kgfm de torque do motor, obtidos numa faixa de giro até baixa para uma unidade com 16 válvulas. Claro que o Fluence não é um carro com apetite esportivo, muito longe disso, mas sem dúvida é um sedã que transmite confiança quando é requisitado.
Botões perdidos
Se a posição de dirigir é encontrada com naturalidade – o carro traz ajuste de altura e profundidade de volante e banco -, alguns botões estão mal posicionados. O piloto automático talvez seja o mais confuso. A Renault optou por usar o volante para operá-lo, mas o acionamento fica no console central, ao lado do freio de estacionamento. Outro dispositivo decepcionante é o GPS. Opcional, o aparelho da Tom Tom não está integrado ao carro. É fixado no topo do painel, mas não rebate e só funciona por meio de um pouco prático controle remoto, ao contrário da rival Peugeot, cuja operação se dá pelo rádio. Em compensação, o ar-condicionado, o computador de bordo e o rádio são de fácil manuseio.
Tarefa difícil
Diferentemente da Peugeot, que preferiu apenas aperfeiçoar o 307 Sedan no novo 408, a Renault foi fundo e criou um sedã extremamente racional, perfil buscado pelos clientes desse tipo de carro. Também foi sensata ao equipar seu veículo com muitos itens para superar os econômicos japoneses. E, para completar a receita, definiu preços mais em conta que Corolla e Civic: a versão Dynamique manual custa R$ 59.990, a automática, R$ 64.990, e a topo de linha Privilège (a que o iG Carros avaliou), R$ 75.990.
Além disso, o Fluence oferece três anos de garantia e a marca francesa fez questão de tabelar os preços de revisão e peças para tornar seu pós-venda mais atraente, certamente o ponto forte da Toyota e da Honda e onde as outras marcas demoraram demais para agir.
No papel, portanto, tudo parece correto no Fluence, mas nem isso pode garantir a ele um futuro mais promissor que o do Mégane – que em 2006 até figurou como 4º sedã mais vendido do Brasil. O azar do Fluence é ter chegado num momento agitado desse segmento – além do 408, da Peugeot, o mercado deve receber pelo menos mais cinco novidades até o final do ano: novo Civic, Chevrolet Cruze, Hyundai Elantra e, nas próximas semanas, o Corolla renovado e o novo Jetta. Ou seja, “falar japonês” talvez não seja o bastante daqui em diante
Fonte: iGCarros
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